Sábado , Maio 4 2024

UMA HISTÓRIA QUE MERECE SER CONTADA

Num país onde as comendas e as medalhas são muitas das vezes distribuídas por demérito e a balde, é bom lembrar que ainda existem heróis anónimos e genuínos.

Numa sociedade em crise de valores e a necessitar de referências nunca é demais recordar determinados acontecimentos, tanto mais que permanecem desconhecidas do grande público.

Passaram 28 anos sobre o pior desastre ferroviário português em Alcafache-Mangualde, na Linha da Beira.

Na tarde do dia 11 de Setembro de 1985, um jovem da Aldeia de Vilar viajava no Sud-Express, com destino à Suíça. Carlos Sousa Ramos possuía na altura 25 anos, tendo presenciado a violenta e trágica colisão entre duas composições, serviço internacional e regional que causaria cerca de 150 mortos.

Logo após o acidente, gerou-se o pânico entre os passageiros, que tentaram sair das carruagens em chamas. Várias pessoas, entre elas crianças, ficaram presas nos destroços das carruagens. Carlos Ramos sobreviveu e, de imediato, tentou socorrer de forma corajosa e abnegadamente os passageiros em dificuldades.vilar de besteiros

Salvou duas pessoas. Ao tentar socorrer depois uma criança, que infelizmente não conseguiu resgatar do intenso fumo e chamas, partiu as duas pernas. Por força dos seus atos heroicos, pagaria um elevado preço, pois sofreu também queimaduras de 1º, 2º e 3º grau, o que colocou a sua vida em perigo.

Valeria a intervenção do general Ramalho Eanes que ordenou o seu evacuamento para a Secção de Queimados do Hospital de S. José, no helicóptero ao serviço do Presidente da República.

Carlos Ramos esteve seis meses hospitalizado, acrescidos de dois anos e meio de tratamentos. Em dezassete meses faria 31 operações.

Embora ficasse com deficiências físicas e marcas psicológicas, casaria e voltaria a retomar o seu percurso inicial de emigrar para a Suíça. O amigo Carlos, pelo seu caracter afetuoso, humilde, comunicativo e trabalhador, conseguiu singrar na vida e granjear muitos amigos, inclusive a amizade do ex-presidente da Republica Ramalho Eanes.

Na Confederação Helvética, o Carlos, conjuntamente com a sua esposa Maria do Céu Ramos, tornou-se viticultor. É atualmente Conselheiro das Comunidades Portuguesas, Vice-presidente do plenário a nível mundial das Comunidades Portuguesas, membro Consultivo do Consulado de Berna, Presidente da assembleia geral do centro português de Neuchâtel e fundador da Casa do Benfica de Neuchâtel.

Para quem diz que a Suíça lusa não possui massa crítica, eis um exemplo que prova o contrário. O seu percurso pessoal e profissional é uma lição de vida e mostra que contínua a ser generoso e sensível para com o próximo.

Abraço fraterno para o amigo Carlos Ramos que tem um coração de ouro!

Jorge Humberto Gomes

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *