Folha de Tondela Jornal centenário da região de Viseu
O culto Mariano é em Portugal muito forte, e a devoção à Nossa Senhora de Fátima é transversal à sociedade portuguesa, que na noite de 12 e dia 13 de maio enche por completo o recinto do Santuário de Fátima.
Nossa Senhora de Fátima é do povo. Aquele povo que é mais que os católicos praticantes. Aquele povo, que se liga à força do Terço, a corrente onde renasce a Esperança e que faz acontecer o Amor. Milhares de peregrinos rumam todo o ano, com especial incidência em Maio, até Fátima, agradecendo, pedindo ou simplesmente porque é um chamamento forte, único e muito pessoal.
Na cidade de Tondela, a procissão de 12 de maio à noite, é uma manifestação popular muito forte. Homens, mulheres, jovens, famílias, crianças, concentram-se no Largo Dr. Anselmo Ferraz de Carvalho, de vela na mão e de olhos postos nas escadarias da Igreja Matriz, onde aparecerá o andor da Nossa Senhora de Fátima.
A imagem é levada pelos Bombeiros Voluntários de Tondela, que também lhe fazem guarda de honra e que percorre as principais artérias da cidade.
Nossa Senhora, a Rainha da Paz é transportada aos ombros dos Soldados da Paz, aquela Paz que todos almejamos e ansiamos.
Os bombeiros, esses vestem a sua farda de gala, para homenagear Aquela que com eles socorre os aflitos nos variados acidentes. As velas que iluminam o caminhar e os rostos em oração, lembram que na noite escura, na escuridão mais negra da alma e das dificuldades pessoais, há sempre uma luza que nos guia, que nos indica o caminho, a luz da fé, da amizade, da misericórdia, da convivência pacífica entre as pessoas.
A procissão, toma forma e percorrendo a Avenida Visconde de Tondela, contorna a rotunda do Infantário até ao hospital.
Aí é a primeira paragem. A imagem da Nossa Senhora de Fátima, é virada para o edifício que é constituído pelas urgências, Cuidados Paliativos e Internamento. A corrente da fé era visível nas velas colocadas nas janelas do hospital e em todo o muro que contorna o edifício. Sentia-se no ar que perante a fragilidade humana, na doença, no sofrimento, há sempre alguém que cuida de nós. É esse amor à Mãe do Céu que faz a corrente sólida da resiliência, da esperança. A Ela todos os que ali estavam se ligavam, a pedir, a agradecer, a acreditar que perante o sofrimento, só a fé é alento para aguentar. Também ali, na imensidão da nossa humanidade, se pedia por aqueles que dentro do edifício estavam doentes, e que precisavam das nossas orações.
O cortejo continuou. A procissão engrossava com cada vez mais participantes, que mesmo sem ouvir, porque entretanto o som falhou e não se ouvia a recitação do terço pelo padre Victor Portugal acompanhado pelo coro da paróquia, mantinha-se o silêncio fraterno, na grandeza da luz das velas.
A outra paragem, foi à frente do quartel dos Bombeiros Voluntários de Tondela. Os Soldados da Paz, e a multidão, pediram à Nossa Senhora de Fátima, proteção, força e coragem para enfrentar os variados perigos na defesa e proteção às populações.
Afinal, eles sabem, eles conhecem o quanto pode ser enorme o sofrimento humano, e que muitas vezes é preciso ajuda para lidar com isso. Levar aos ombros a Sua imagem, e parar com ela junto à casa onde a corporação está alerta para o que der e vier, é mais que um gesto, é toda a história da humanidade. No companheirismo, no amor, no respeito, no auxílio e na fé somos mais fortes e solidários
A procissão continuou, pela rua Marechal Gomes da Costa até à Câmara, depois pela rua Dr. Abel Lacerda subindo pela rua Tomás Ribeiro até à Igreja Matriz. Todo o percurso foi cuidadosamente orientado pela GNR, e o respeito dos automobilistas foi notório.
Algum cansaço já se sentia, mas a bênção final com o andor no cimo das escadarias, foi esperado por todos.
E numa última oração, perante o olhar de cada um, as velas foram se apagando e cada um regressou a casa, mais rico, mais leve, mais fraterno, porque todos estavam ligados pela força da oração e da fé. Afinal a oração é necessária no caminhar das nossas vidas.
MJJ
