Domingo , Abril 7 2024

SÃO JOÃO DO MONTE – A FREGUESIA QUE GUARDA A MAGIA DA SERRA DO CARAMULO MAS QUE ESTÁ PRONTA PARA OS DESAFIOS ATUAIS

A freguesia de S. João do Monte, localizada do “lado de lá” da Serra do Caramulo, serpenteada pelo rio Águeda, que com a reorganização administrativa de 2012/2013, foi integrada União das Freguesias de São João do Monte e Mosteirinho, fica a cerca de 40 km da sede do concelho e é ainda hoje para a maioria dos tondelenses desconhecida.

Já foi sede de concelho até 1855, e desse altura ficou o edifício da Câmara e da cadeia, bem como o pelourinho. Foi elevada à categoria de vila em 1997, e desde aí que conquistou algumas infraestruturas, reclamando ainda hoje pelas redes de água pública e saneamento. Constituída por 20 aldeias, Abóboda, Almejofa, Almofala, Belazeima, Braçal, Caselho, Castelo, Daires, Souto, Dornas, Valdasna, Vale do Lobo e Valeiroso, a que se acrescenta Mosteirinho e São João do Monte é rica em património arquitetónico, gastronómico e popular.

Na vila pode-se visitar a Igreja Matriz dedicada a São João Batista, a mata coma sua frondosa árvores e equipamentos para piqueniques, muitos moinhos, fontes, a ponte Romana e a cadeia.  Com uma belíssima área de lazer, nas margens do rio Águeda, permite no verão receber quem se queira refrescar nas águas do rio que abraça a povoação. Também se pode ver como a preciosa água do rio foi transportada para regar os campos que eram o sustento das pessoas e que alimentavam o gado, a chamada ponte das Cales, que é constituído por um vasto conjunto de aquedutos e levadas.

Com uma secção de bombeiros do Campo de Besteiros e com feira mensal, esta vila procura adaptar-se e reagir ao isolamento e à distância da sede do concelho e da cidade de Águeda

Quem aqui chegar, pode pernoitar e comer, porque há na vila Alojamento Local e um restaurante que oferece ao visitante uma experiência serrana. Com várias associações culturais e recreativas, uma IPSS, esta freguesia teima em manter as suas raízes, abrindo-se ao mundo e às novas realidades.

O jornal Folha de Tondela, ouviu o presidente da junta, Paulo Dinis que nos traçou a realidade destas terras.

Paulo Dinis eleito nas últimas eleições autárquicas pelo PS, afirma-se como um grande defensor destas terras e por isso deixou um bom emprego em Coimbra, para se dedicar à apicultura na terra que o viu nascer, num compromisso “que não é com nenhum partido, mas sim com as pessoas de S. João do Monte.”

Tem o sonho em cada povoação registar os usos e costumes das pessoa e das terras, para não se perder a riqueza cultural e sociológica “perguntar um a um como é que era isso, como é que eles faziam as trocas comerciais, como eram as casas, como era o relacionamento da população, onde se ia buscar a água, quais as comidas que eles faziam, como era o jantar de Natal, para  tudo ficar registado para um dia mais tarde poder fazer outro trabalho, porque se não houver registo estas memórias vão se apagar”.

Orgulha-se da história e do património da freguesia, que quer preservar “nós somos ricos em património cultural, já fomos um polo, já fomos sede de concelho, Campia pertencia a S. João do Monte e isso reflete-se ainda atualmente” “havia muita gente a passar por aqui antigamente, temos aqui caminhos antiquíssimos, vê-se isso nas rodadas dos carros de bois fomos quase uma rota que passava aqui. Por isso é que nós temos essa diversidade, também somos um território grande, quanto maior for o território, maior é a cultura e o património”.

POVOAÇÕES DISPERSAS E LONGE DA SEDE DA FREGUESIA

Com um vasto território em termos de área, muitas povoações da freguesia estão longe da sede, dificultando a mobilidade e o acesso aos serviços e cuidados primários. A autarquia é assim importante na proximidade ajudando as populações, sobretudo os mais idosos” temos uma população muito envelhecida e uma população envelhecida não tem a mesma capacidade de comunicação como a gente nova que hoje em dia ligam ou mandam um e-mail, ou desloca-se porque tem carro próprio. Há muita gente nem carro próprio tem ou já tem uma idade avançada para se deslocar e nós tentamos chegar mais perto das populações.

O nosso compromisso é fazer as assembleias descentralizadas, e temo-las feito ao longo deste mandato, temo-las feitos por várias povoações, para estar perto da população” revelou o autarca.

O serviço de transporte Ir e Vir da CIM Viseu Dão Lafões, que abrange a freguesia, foi também tema da conversa e é de acordo com António Pereira importante e uma boa medida, mas entende que ainda há uma desinformação sobre este serviço junto das populações e que na sua ótica devia existir mais campanhas de sensibilização para este serviço que beneficia sobretudo os mais idosos que” estão tão habituadas a chamar o táxi” e que “desconfiam” desta modalidade.

IPSS – CENTRO PAROQUIAL DE SÃO JOÃO DO MONTE.

Conforme já foi referido a freguesia conta com a IPSS que desde 2005 presta serviço social às populações. O autarca reconhece que o papel da IPSS no território é “fundamental”.

Na sua ótica “é a instituição mais importante que nós temos, não desfazendo das outras, mas é a instituição mais importante que nós temos na freguesia” e por isso não regateia os apoios “apoiamos a Instituição num valor de cerca de 7000 euros ano, pagamos a parte de eletricidade que são sempre à volta de 300, 400 euros por mês, portanto para uma junta com a nossa, isto ronda um valor anual já muito considerável, o que não nos arrependemos de nada e sempre demonstramos isso, se for preciso mais  nós estamos sempre à disposição, não quero é que a instituição chega a um ponto em que não consigam fazer mais, porque não há verbas, isso não pode acontecer. O serviço tem de estar garantido, e as verbas tem de o garantir”.

Fala das deficientes instalações da IPSS e defende que “teremos que juntamente com o Município repensar em aumentar o centro”, porque reconhece que cada vez mais a população da freguesia é mais envelhecida e que a cada dia os utentes aumentam e por isso a necessidade do aumento da capacidade das instalações “tem que estar garantido isso a tempo e horas”.

A ESCOLA

São João do Monte ainda tem a escola a funcionar, no edifício requalificado há uns anos atrás e isso é uma mais-valia para as povoações, como afirmou o presidente António Pereira. O autarca nesta matéria é perentório “não podemos estar aqui a apelar a que as pessoas se fixem no interior e depois fechar escolas”. Defende que para “as pessoas para se fixarem no interior sobretudo os jovem há duas coisas que nós temos que garantir, que é o acesso à escolaridade, e o acesso à saúde” e avisa que “o dia em que se decidir acabar aqui com a escola, se eu ainda for Presidente de junta ou mesmo que não seja, terão aqui uma voz super ativa nisso, para que a escola não feche”.

ATIVIDADES ECONÓMICAS “TEMOS QUE SABER APROVEITAR AS POUCAS OPORTUNIDADES QUE NOS DEIXARAM, E EU, SUBLINHO ISSO, QUE NOS DEIXARAM”

Na longa conversa com o autarca, a atividade económica da freguesia foi abordada, com um misto de desalento “São João do Monte como outros territórios do interior, nós não somos diferentes do resto do território interior, temos que saber aproveitar as poucas oportunidades que nos deixaram, e eu, sublinho isso, que nos deixaram”. “ É que não nos criaram oportunidades, deixaram nos algumas, e essas pequenas oportunidades, temos que as saber aproveitar. Talvez passe pela diversidade, ninguém consegue viver tudo só do turismo, nem há território nenhum que viva só turismo, nem território nenhum que viva só da indústria, quanto mais diversificada for a economia, melhor para o território”. O autarca defende o aproveitamento da floresta e da agricultura e dá como exemplo a sua decisão pessoal de deixar para trás um bom trabalho na cidade e regressar “para fazer o meu negócio, que é agricultura, e consigo viver dele, melhor ou pior, mas consigo viver dele e acho que são esses pequenos negócios que nós temos que tentar aproveitar”. No seu entender a principal atividade da freguesia é sem dúvida a floresta, mas entende que o turismo tem aqui um potencial a ser explorado.

Outro assunto na ordem do dia é habitação, com o autarca a informar que na freguesia há muita habitação à venda” não são apartamentos, são casas rurais, casas com alguma idade” prontas a serem reconstruidas, e com preços mais acessíveis.

A FREGUESIA NÃO TEM ÁGUA NEM SANEAMENTO PÚBLICO

“É UMA VILA COM 25 ANOS E NÃO TEM SANEAMENTO NEM ESGOTO, É PENOSO”

A sede da freguesia oferece condições de urbanidade, mas para se “viver na Serra ou no centro é preciso gostar de cá estar. Essa é a primeira condição. É como aqueles que gostam da cidade” disse o presidente que informa que a ”São João do Monte já chegou a fibra, há comunicações, a rede satélite não é melhor que nós gostávamos de ter, mas temos já alguns pontos com boa rede”, denunciando “ o que falta aqui,  são melhores transporte públicos” e sobretudo  “ falta-nos aquilo que também falta em muito lado, mas que é essencial hoje em dia que o  é abastecimento de água e esgotos. São João do Monte é uma vila com 25 anos e não tem saneamento nem esgoto, é penoso”.

Com cerca de 400 habitantes a freguesia aumenta a população durante os fins de semana, porque “nós temos um grande fluxo de gente que está a comprar casas e a reconstruir, e que vem ao fim de semana. Temos aí povoações que estão quase reconstruidas por gente de fora e que ao fim de semana duplica ou triplica a população” conto António Pereira, o que é uma nova realidade por aqui e que modifica a estrutura sociológica deste território.

A SUCESSIVA PERDA DE POPULAÇÃO

“ENQUANTO SE TRADUZIR INVESTIMENTO EM VOTOS, DESSE MODO NÓS NUNCA VAMOS TER INVESTIMENTO QUE MERECEMOS”

Com a maioria dos residentes a trabalhar em Águeda, e em Campia concelho de Vouzela, São João do Monte tenta resistir ao despovoamento e para isso nas palavras do presidente da autarquia “a luz ao fundo de túnel é muito fininha”, dado que se perdeu 27,8% da população nos últimos censos e “quando nós estamos a cair de censo para censo quase uma terça parte da população, dá-nos poucas esperanças” no que respeita à fixação de população.

Mas para este autarca a esperança é sempre a última a morrer e por isso “vamos tentar fazer o nosso melhor para que pelo menos criar algumas condições, ou tentar estancar um bocadinho, como quem teve uma hemorragia grave”, afirmou que “a nossa preocupação é tentar resolver os problemas da população residente, tentar construir um futuro, mas nós sabemos que não está fácil”. António Pereira entende “que hoje em dia o investimento que é preciso fazer, nas política do município como do Governo central para inverter a situação, seriam 10 vezes mais do que se tivessem sido feita há 40 anos atrás” e portanto continua o autarca a dizer “ se nós tivéssemos tido aqui, melhores vias de comunicação, se nós tivéssemos tido aqui uma pequena zona industrial, tinha fixado muita gente, ou alguma gente, porque as pessoas que foram embora da minha geração  e das outras, que construíram casa fora, em Águeda em Aveiro, essas pessoas nunca mais voltam. E os que cá nascem atualmente, também dificilmente cá ficam, por isso, teriam que ser política da há 40 anos atrás” e dá como exemplo Campia “eles perderam 7% da população, nós podemos 27.8%. Está perto de infraestruturas necessárias, tem uma zona industrial, está perto da A25. Teve outras condições que nós não tivemos” desabafa o autarca.

Reconhece que a vida não está fácil para os portugueses em geral, com empregos com baixa remuneração e quem tem a escolaridade mais baixa “sujeita-se sempre a trabalhar por turnos. Qual é a fábrica que hoje não trabalha por turno. Quando um casal, os dois trabalham sempre por turnos, como é que se conseguem ter filhos? Se não há, depois apoio à natalidade, se não há isso, como a mulher que só tem 6 meses de licença de maternidade é complicado” disse o edil.

Por fim, falou-se da sua experiência como autarca, dado que é a primeira vez que está na autarquia e como é que aqui chegou “foi uma coisa inesperada realmente. Para já, porque não pedi para vir para aqui, pediram-me para vir e eu fui sempre jogando a bola para o outro lado, até que tive que vir, para cumprir a minha palavra, porque disse que ia arranjar alguém. Pensando eu que ia porta fora e arranjava 4 ou 5 pessoas. O que o que não aconteceu, ninguém quis e eu para cumprir a minha palavra tive que aceitar.”

“Tem sido uma experiência, tenho ganho muito conhecimento, claro que sim. A governação não é fácil de modo nenhum, é uma coisa muito trabalhosa, muito penosa”, revelou “a gora quem está nisto tem que ter sempre o espírito de que isto não é para ganhar nada, está ao serviço do povo”. E por isso apela ás autoridades competentes, ao Município de Tondela que “tem que olhar que São João do Monte não é um fardo em primeiro lugar. Em segundo lugar, não podemos quem está à frente deste tipo de administração, não pode olhar para os territórios com pouca população, com a ideia de que ali não temos de investir muito, porque são poucos. Somos iguais aos outros. E as políticas de investimento num território com pouca população tem que ser exatamente o contrário é preciso criar infraestruturas para que se consiga reverter, e estancar a perda de população.  Enquanto a mentalidade não mudar, porque são poucos, isto não é uma mentalidade de um autarca, isso é uma mentalidade política”.  Categoricamente afirma que “Enquanto se traduzir investimento em votos , desse modo nós nunca vamos ter investimento que merecemos”.

A União de freguesias de São João do Monte , é uma das 19 freguesias do concelho, que merece uma visita, e que mostra potencialidades a nível do turismo e do património. Esta freguesia, não baixa os braços e continua a resistir ao abandono.

MJJ

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