Quinta-feira , Maio 16 2024

CAPARROSA – ACUCA RELEMBRA A MATANÇA DO PORCO À ANTIGA

A matança do porco, era na época onde não havia o privilégio dos frigoríficos, nem da abundância dos talhos e supermercados, um acontecimento essencial no sustento da família. Engordado desde a primavera com os restos da cozinha e do que a lavoura dava, o porco era engordado para nos dias frios de inverno, pudesse cumprir o seu desígnio de alimentar a casa.
A matança, era por isso um acontecimento importante para a família, e socialmente obrigava a um ritual que fazia parte da comunidade. Os vizinhos ajudavam na lide, quer na matança do bicho, quer na lavagem das tripas para fazer as morcelas e as chouriças que seriam a merenda das sementeiras.
O porco era a razão para nada se desperdiçar na cozinha e no campo, durante o ano. Tudo era aproveitado para o animal comer. Era a beleza da sustentabilidade do campo, sem os chavões modernos da hipocrisia. Também do porco tudo se aproveitava, porque o desperdício era para os ricos. Os torresmos que faziam o pingo para os temperos e para conservar alguma carne, eram o mata-bicho antes de se começar a jorna nos campos agrícolas. O sangue que jorrou do animal, era aproveitado para as morcelas que se comiam logo nos dias seguintes. No fim da desmancha a maioria da carne ia para a salgadeira, alguma da mais nobre ia para as panelas de barro e conservadas no pingo, outra era partida para as chouriças, que temperavam durante uns dias e depois de enchidas iam para o fumeiro que as conservava para serem consumidas nas merendas das sementeiras, e talvez nas merendas das colheitas. Os couratos do porco eram colocados em vinha d’alhos e eram um petisco enquanto duravam.
Neste ritual, havia o hábito “do prato”, que mais não era do que dar a prova do porco, aos vizinhos, familiares, amigos e benfeitores. Também quem ajudou na matança do porco, e depois da desmancha, havia o jantar onde se provavam as morcelas e os torresmos e fígado, acompanhado por um bom arroz de costelas. A matança do porco era por isso dia de festa, para a família e para os vizinhos.

ACUCA – VII MATANÇA DO PORCO
Foi nesse ambiente de festa que a ACUCA – Associação Cultural de Caparrosa, recriou no dia 14 de abril, com a VII Edição da Matança do Porco, sem matar o porco, como em anteriores edições.
Cerca de 200 pessoas estiveram na sede da associação onde puderam relembrar, e outros conhecer, as várias etapas da matança do porco à moda antiga. No exterior do pavilhão, em mesas improvisadas em fachos de palha, estavam as chouriças, as morcelas; as sainhas; os couratos de vinha d’alhos, as orelheiras e o fígado, para matar o bicho a quem chegava.
Mas já nos dias anteriores, um grupo de membros da ACUCA e alguns amigos que se quiseram associar a estes nos preparativos, tinham começado a fazer as chouriças, que foram defumadas à moda antiga, bem como as morcelas que foram servidas no repasto.
Em panelas grandes de ferro, e ao lume, foi confecionada a sopa à lavrador à moda da aldeia, e as papas de milho. Também ao lume foram feitos os torresmos e as sainhas, o fígado de cebolada, as orelhas e etc… No grelhador as febras saíam para molhar o pão naquele gosto de outrora, em que a azáfama da matança do porco era a alegria do lar.
O porco deu muita carne, e a comida estava em fartura, e o vinho do dão completou o quadro. O calor impróprio para a época, não impediu o apetite dos comensais e a boa disposição reinou no interior e no exterior do pavilhão.
Ainda antes das sobremesas, iguarias que se trouxeram para o evento, mas que não faziam parte da matança do porco de outrora, o Rancho Folclórico “As Cabacinhas de Santiago” de Viseu atuou, lembrando o antigamente em que os ponteiros do relógio eram substituídos pelo nascer ao pôr do sol, onde o trabalho do campo era a atividade central das aldeias. Também nesta altura, falaram o presidente da direção da ACUCA, Rui Oliveira, o presidente da União de Freguesias de Caparrosa e Silvares Caparrosa, Mário Simões e o vereador da Câmara, João Figueiredo.
Nesta altura, os convivas faziam o que uma boa comida e bons amigos promovem, as conversas, as gargalhadas e a convivência, num burburinho que nem brisa do vento do norte. Era bom sinal. Era sinal que tudo tinha corrido bem, que as pessoas estavam satisfeitas e alegres. Era sinal que a matança do porco continua a ser um bom motivo para as pessoas se juntarem e conviverem. Para as mulheres e os homens que estiveram nas panelas de ferro, nas sertãs, no grelhador, nas mesas, no empratamento e nas bebidas, foi a melhor sensação: apesar do muito trabalho, do cansaço e do calor, valeu a pena o convívio e a boa disposição, num movimento associativo que dá vida às aldeias do concelho.
No final, Rui Oliveira, declarou ao nosso jornal, que o evento superou as expectativas, com muita participação e que tiveram de colocar mais mesas. O “calor é que não estava previsto” e por isso “tenho que dar uma palavra de apreço, para os/as colegas que estiveram mais de três horas à volta do lume”, disse este dirigente associativo.
Informou que a sede da associação precisa de melhores instalações de cozinha para realizar os vários eventos durante o ano, e que “espera que Câmara de Tondela, apoie” este desejo da direção. Aproveitou para agradecer, a todos, quer particulares, quer empresas que ajudaram neste evento, sobretudo aqueles que durante dias estiveram na linha da frente” a preparar tudo”. O presidente da ACUCA espera que a população das Caparrosa participe cada vez mais nas atividades da associação para acarinhar quem visita esta aldeia e que ajudam a preservar a identidade da freguesia.
MJJ/ O.P

Veja Tamém

TONDELA – OBRAS NO CENTRO DE SAÚDE NUNCA MAIS COMEÇAM

Estas obras foram anunciadas em junho de 2021, pela Câmara chefiada por José António de …

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *