Poucos saberão que eu percebo tanto de bola como de carolos, minto, estes últimos já os dominei, uma vez, no tacho, mas solicitada para partilhar a minha opinião e depois de ter feito uma reportagem em Tondela para perceber o impacto do clube no concelho, aqui ficam as minhas observações (são observações de alguém de fora, que já não é do Benfica, clube da mamã, nem do Porto, clube do papá, mas assumidamente do Tondela). As cores lembram-me o Brasil que me corre nas veias e a gana com que jogam, o estarem aqui perto de mim, da região onde vivo, onde tantas e tantas dificuldades se enfrentam pela famigerada ostracização do Interior, eis que sou Tondela. São motivos mais que suficientes.
Entrámos confiantes, velocistas, quais gazelas. O Chaves parecia atordoado. Pensei que fosse da viagem. Chaves não é logo ali, mas afinal tinham vindo na noite anterior (disseram-me). Por que estariam com um ar tão cansado, ou seria o Tondela que estava louco? Louco por conseguir aquilo que os loucos pelo Tondela lhes pediram: permanecer na Primeira Liga. Começo por falar do Chaves, porque vamos lá ver uma coisa, alguém tinha que perder, certo? Foi o Chaves, não jogaram melhor é certo, mas também não eram precisos aqueles apupos finais dos seus adeptos. A ansiedade, sim a ansiedade, ou numa forma mais vulgar do termo, os nervos, deveriam ser imensos, a responsabilidade pesa sobre as costas. E pesou para o Tondela, mas não a pontos de os imobilizar. Reagiram, responderam. E mantemos o clube dos pica-paus amarelos, na Primeira Liga, feito importante não só para o Tondela, como para toda a região, os 5-2. Sim todos temos ganhos com o Tondela, estar na Primeira Liga. Acreditem em mim, a febre amarela atinge todos, até a mim que vivo numa das encostas da Serra da Estrela, com vistas privilegiadas para o Caramulo.
Há um mapa muito curioso, por sinal, que circulou por estes dias nas redes sociais mostrando o número de clubes que no Litoral e no Interior, estão na Primeira Liga. É interessante e motivo de orgulho ver ali o Tondela sozinho. Por estes dias, um pastor de Folgosinho, perguntou-me assim: “oh menina, vi umas fotos suas lá com o cachecol do Tondela, não me arranja os bilhetes para eu ir ver o Benfica?” A verdade é que para a maioria das pessoas ver os “grandes” jogar, sempre foi coisa para fazer muitos quilómetros de estrada, e agora em pouco menos de uma hora, já estamos em Tondela. Querem outro exemplo? Fui deixar o meu carro numa oficina de lavagem automóvel. Eis que quando lá chego, vejo um dos empregados com o MEU cachecol do Tondela à volta do pescoço, exclamando: “Oh menina, isto estava no seu carro, não me deixa ficar com o cachecol do Tondela? Gosto tanto daquele clube…”. Confesso que ainda pensei dar-lho. Mas aquele cachecol já tinha assistido ao Tondela-Porto e já lhe tinha prometido que o levava ao Tondela-Chaves.
Mas vestindo a pele de comentadora desportiva…Todos falam no Tomané, todos gritam pelo Tomané, nas bancadas, mas não foi só ele que brilhou. Para mim os homens do jogo, foram: o guarda-redes, Cláudio Ramos, numa defesa especialmente difícil que teve de concretizar e outros dois jogadores: o Jhon Murilo que marcou dois dos golos de uma mão cheia deles, sempre naquela correria, naquela gana por conquistar a vitória. E Nego Tembeng, que entrou já na segunda parte do jogo, chutou para bem longe todas as bolas que caiam na grande área do Tondela. Para quem não viu o jogo, recomendo que futuramente, além de ver, oiçam também os fantásticos relatos de António Pratas na Emissora das Beiras. Ele tem muito talento e é vosso também.
Um último comentário aos Pestinhas – Escola de Futebol de Tondela, campeões distritais de sub-10 da Associação de Futebol de Viseu, que desfilaram pelo campo, erguendo a taça, ao som de aplausos, até dos bons camaradas flavienses, um momento emotivo que nos recordou o que deveria ser o futebol.
E porque não sou uma comentadora típica de desporto, uma última questão: aqueles quartos de banho do Estádio João Cardoso, estão sempre assim impecáveis? Até nisso não facilitam…
Liliana Carona
Jornalista da Rádio Renascença, correspondente na região interior centro