Sexta-feira , Maio 3 2024

O COMANDANTE DE UMA SÓ VOZ – SER BOMBEIRO EIS A QUESTÃO

Nuno José Pinho do Carmo Lopes Pereira, nasceu em Tondela há 47 anos e desde cedo tomou o “ gostinho” pelos Bombeiros Voluntários de Tondela, onde ingressou como aspirante em 1991, e em 1992 passou a Bombeiro de 3ª classe.
Desde essa data, que a dedicação, o empenho e o profissionalismo o distinguiram na corporação e naturalmente foi subindo na “ carreira” de bombeiro voluntário.
Assim, em 2004 chegou a chefe, e em 2018 a comandante da corporação.
Foi agraciado pela Liga dos Bombeiros Portugueses, com a Medalha de Assiduidade de grau cobre, prata e ouro, com a Medalha de Dedicação e com a Medalha de Serviços Distintos
Recebeu ao longo dos anos, louvores da direção dos bombeiros, “pela entrega, enorme dedicação, lealdade e profissionalismo que tem demonstrado na formação de todos os elementos do Corpo Activo, bem como no desempenho das suas funções…”, bem como do Conselho Executivo da Liga dos Bombeiros Portugueses, entre outros.
O comandante Nuno Pereira é um homem da terra, com grande amor e dedicação á missão dos bombeiros e o Jornal Folha de Tondela, fez lhe uma entrevista para dar a conhecer o seu percurso como cidadão e bombeiro.

Folha de Tondela – Quem é o Nuno Pereira?
O Nuno Pereira, filho do Zé do “Tribunal” e da Mila, nasceu às 12h50m do dia 01 de Março de 1973, na maternidade do antigo Hospital Distrital de Tondela, na então Vila de Tondela e curiosamente no momento do seu nascimento a sirene dos Bombeiros de Tondela estava a tocar devido a um incêndio numa habitação na localidade do Botulho. Cresceu e estudou na terra que o viu nascer e que nunca a trocou por nada deste Mundo. Trabalhou como Operário Fabril na HUF Portuguesa, foi Guarda Nocturno na Escola Secundária de Tondela e de há uns anos a esta parte é funcionário do Município de Tondela. É casado e tem dois filhos, o Gonçalo e a Mariana.
FT – O que o levou a ser bombeiro voluntário?
Desde que me recordo o fascínio pelos Bombeiros sempre esteve presente, sendo enorme. O meu avô materno e um dos meus tios foram Bombeiros. Recordo-me que com talvez três anos já tinha um uniforme…Cresci e fui alimentando um sonho, o de um dia poder ser Bombeiro Voluntário de Tondela. De fascínio passou a amor e devo reconhecer que por vezes até se torna obsessão… Mas o ser Bombeiro é assim…A missão tem que ser vivida de forma intensa…
FT – Sempre ouvi o Sr. Amorim Lopes a falar dos bombeiros com muita paixão e entusiasmo. O que é ser bombeiro voluntário nos dias de hoje?
O Sr. Amorim, uma grande referência para mim, tem toda a razão. Um Bombeiro quando fala acerca do assunto Bombeiros, aborda-o com o coração, pois a paixão é enorme…E quando se fala com paixão como é logico fala-se com entusiasmo.
Hoje em dia ser Bombeiro não é nada fácil pois as exigências cada vez são maiores. É estar disponível 24 horas por dia, 365 dia por ano. É dar-se, sem receber nada em troca. O Bombeiro é voluntário por opção, mas profissional na acção. Actualmente o número de ocorrências que são registadas, aliadas à complexidade na resolução das mesmas, obriga os Bombeiros a possuírem tempo disponível para ocorrerem aos diversos e multifacetados teatros de operações e possuírem um grau de formação bastante elevado. É certo que os perigos sempre existiram, mas os riscos e os problemas de hoje são diferentes dos que existiam há 10, 20, ou 30 anos atrás. Relativamente à formação que é ministrada aos Bombeiros em Portugal, o que para nós é considerado como sendo formação inicial (formação de base), noutros países da União Europeia é considerada como sendo formação de especialização. Portanto, no aspecto da formação, estamos muito à frente relativamente a outros países. Tenho a noção que actualmente o tempo de vida útil como Bombeiro tem tendência diminuir, contrariando desta forma o passado em que um Bombeiro era Bombeiro a vida inteira… Tenho pena que quem de direito, não olhe para os Bombeiros e não os trate de uma forma correcta. Tenho pena que quem de direito, não crie mecanismos (incentivos) direccionados às empresas que possuam nos seus quadros Bombeiros Voluntários, a fim de os poder libertar aquando da necessidade de serem empenhados em missões de socorro. Tenho pena que algumas empresas que possuem nos seus quadros Bombeiros Voluntários, não os libertem para poderem prestar socorro.

FT – O concelho e a cidade de Tondela está a crescer, têm muita indústria e várias zonas industriais, no seu entendimento os meios das corporações dos bombeiros voluntários são suficientes para dar resposta às novas e diferentes situações de emergência?
Devido ao crescimento de Tondela (concelho e cidade), os riscos/perigos aumentaram de uma forma brutal. Devo referir que os meios existentes nos Corpos de Bombeiros são manifestamente diminutos. Porem, atendendo às nossas necessidades/prioridades, recentemente a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Tondela procedeu à aquisição, no mercado de usados, na Holanda, de um veículo de combate a incêndios urbanos e industriais. Este veículo, que se encontra em fase de legalização e que brevemente ficará operacional, virá possibilitar uma outra capacidade de resposta a ocorrências que envolvam incêndios estruturais, mas também ocorrências na área do salvamento e desencarceramento.
FT – Os bombeiros voluntários de Tondela, são uma associação muito antiga do concelho, acha que devem ser mais apoiada pelas autoridades competentes?
A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Tondela brevemente irá assinalar o 97º aniversário da sua fundação, portanto é quase centenária. Relativamente a apoios recebemos ajudas do Município de Tondela, de algumas Juntas de Freguesia, de algumas empresas e de cidadãos (sócios e não sócios). Relativamente aos apoios provenientes das instâncias governamentais estes são manifestamente parcos…
Permita-me a ousadia de referir o seguinte: é lamentável e revoltante o que se passa no nosso pais…Os Bombeiros existem na nossa nação, há mais de 600… De há uns anos a esta parte, as Entidades Governamentais apostaram num brutal desinvestimento nos Bombeiros. Dá a sensação que querem “acabar com os Bombeiros”. Paralelamente registou-se um investimento louco noutras estruturas e o surgimento de novas organizações, com orçamentos megalomanos. Porém, em qualquer Teatro de Operações verifica-se a trabalho sempre os mesmos, ou seja os Bombeiros…
FT – É comandante da corporação. O que significa ser comandante? O que mudou na sua vida de bombeiro com a sua designação para este cargo?
Na minha opinião ser Comandante significa ser Líder, ser Humilde, ser possuidor de Sensibilidade e Bom Senso, ser Companheiro, ser Amigo, ser Leal, ser Verdadeiro, entre outros atributos. Um Comandante deve servir os Bombeiros e nunca se servir dos Bombeiros. Deve respeitar para poder ser respeitado. Deve ser considerado um exemplo. Deve dar liberdade e responsabilidade. Deve arregaçar as mangas para poder alcançar o melhor para as Mulheres e Homens que servem o Corpo de Bombeiros. Ser Comandante é sinónimo de não possuir vida pessoal. Para além do acima citado o Comandante ainda deve ser pai/mãe, irmão, psicólogo, professor, padre, conselheiro, ouvinte, etc, para com as Mulheres e Homens do Corpo de Bombeiros. Contudo, um Comandante para poder levar a missão a bom porto tem que contar com a ajuda/colaboração/apoio dos restantes elementos do Comando, bem como de todos os elementos que compõem o Corpo de Bombeiros. Ao meu 2º Comandante Rui Vale, ao meu Adjunto de Comando Pedro Brás e a todas as Mulheres e Homens que compõem o Corpo de Bombeiros Voluntários de Tondela, a minha enorme gratidão. É bom nunca esquecer o seguinte: “…Um Corpo de Bombeiros sem Comandante sobrevive…Um Comandante sem Bombeiros não tem razão de existir…”.
Relativamente a mudanças na minha vida como Bombeiro, sinceramente, a única que notei com a tomada de posse como Comandante foi o aumento da responsabilidade, em todo o resto mantenho o que anteriormente fazia.

FT – Há algum processo específico para se chegar a comandante?
O processo de indigitação de um Comandante, o qual se encontra vertido através de diplomas legais, é resumidamente o seguinte:
1º – O Comandante é proposto pela Entidade Detentora do Corpo de Bombeiros, neste caso direcção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários.
2º – O processo da proposta para Comandante segue para apreciação por parte da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil (ANEPC).
3ª – Após validação por parte da ANEPC, o elemento proposto para Comandante irá receber formação na Escola Nacional de Bombeiros, nos seguintes módulos: Liderança na Actividade de Bombeiros; Organização Jurídica, Administrativa e Operacional dos Corpos de Bombeiros; Gestão Operacional de Incêndios Florestais; Gestão Operacional de Incêndios Urbanos e Industriais; Gestão de Operações em Acidentes Multivítimas e em Matérias Perigosas.
4ª – Após a conclusão com aproveitamento da formação acima citada, o processo é remetido para despacho de homologação por parte do Director Nacional de Bombeiros da ANEPC.
5ª – Após o despacho de homologação por parte do Director Nacional de Bombeiros da ANEPC, existe a tomada de posse como Comandante.

FT – Nestes anos de bombeiro, qual foi a situação mais dramática que já viveu?
Ao longo destes quase 30 anos como Bombeiro Voluntário, vivi situações perfeitamente dramáticas. Categorizar como sendo a situação mais dramática que já vivi, para mim é difícil. Porém, a título meramente exemplificativo posso assinalar o seguinte:
– Variadíssimos acidentes na EN2, na antiga variante e posteriormente no IP3, onde faleceram imensas pessoas, inclusive amigos pessoais;
– Despiste de um autocarro registado a 24/03/2001, no IP3 (Santa Comba Dão), onde faleceram 14 pessoas;
– O duplo acidente em cadeia registado a 24/08/2010, na A25. O primeiro acidente sentido Aveiro/Viseu (Talhadas), onde faleceram 6 pessoas (cinco adultos e uma criança). O segundo acidente Sentido Viseu/Aveiro (Vouzela), onde faleceram 2 pessoas (um adulto e uma criança);
– Incêndios do Caramulo em 2013;
– O Incêndio de 15 de Outubro de 2017;
– Acidente na Associação de Vila Nova da Rainha, em 13/01/2018, onde faleceram 8 pessoas no dia da tragédia, existindo um balanço final de 11 mortes;
– Etc…

FT – Na sua opinião, a maioria dos bombeiros do país, deviam ter outro estatuto sem ser o voluntário?
Cada vez mais os Corpo de Bombeiros têm que se adaptar às circunstâncias devido à evolução da Sociedade. Cada vez mais é importante a existência de equipas profissionais dentro do Corpos de Bombeiros as quais possam ocorrer com rapidez, rigor e profissionalismo aos diversos Teatros de Operações aos quais são solicitados. Seria de bom tom, o reforço nos Corpo de Bombeiros das Equipas de Intervenção Permanente (EIP). Porém sou um acérrimo defensor do Bombeiro Voluntário.

FT – Sempre viveu em Tondela, na sua perspetiva é um território que se recomenda?
Como deve compreender eu sou suspeito ao referir-me a Tondela. É a minha terra. Foi o local onde me viu nascer e crescer e a agora me vê a envelhecer… A nossa cidade e o nosso concelho para além de possuir uma localização nevrálgica, detém um conjunto de potencialidades brutais detentoras de recursos fantásticos. Como é logico Tondela é uma território que aconselho.

FT – É adepto do CD Tondela? O futebol é um bom ”cartão de vista” do concelho?
Lamento mas devo confessar que não sou grande adepto de futebol. Porém fico contente quando o Desportivo de Tondela ganha e fico triste quando perde… Posso considerar que o futebol poderá ser um bom cartão de visita do nosso Concelho, mas também considero que seguramente não é o único cartão de visitas devido às riquezas (paisagísticas, arquitectónicas, culturais e o principal que são as pessoas) existentes no nosso território.

FT – Que mensagem quer deixar aos tondelenses?
A todos os Tondelenses solicito ajuda nesta missão, as quais assentam neste momento em 3 pontos:
1º Solicito que apoiem a causa dos Bombeiros. Peço que apoiem e respeitem as Mulheres e Homens que defendem a divisa “Vida por Vida”, pois o Bombeiro é o amigo que chega quando todos o abandonam e é o amigo que entra em locais de onde todas as outras pessoas fogem…
2º A situação global que é vivida devido à pandemia COVID-19, é extremamente preocupante. Como é logico, o Corpo de Bombeiros não é indiferente a esta situação. Contudo, apesar de a encararmos com particular preocupação, encaramo-la também com responsabilidade mas também com optimismo. Assim sendo solicito a todas as pessoas que na eventualidade de possuírem sintomas de febre, dores musculares, tosse e ou dificuldades respiratórias, deverão contactar a linha SNS24 através do número 808242424 e descreverem a situação. Caso não seja possível o contacto através de linha SNS24, deverão em recurso contactar o CODU (Centro de Orientação de Doentes Urgentes) do INEM, através do número Europeu de Socorro, o 112. O acionamento dos meios de socorro (ambulâncias) do Corpo de Bombeiros serão executados por estas duas entidades. Solicito ainda que aquando da abordagem das equipas pré-hospitalares, o(s) doente(s), ou seus familiares descrevam toda a situação inerente ao caso, não camuflando qualquer tipo de informação. Solicito sensibilidade e bom senso. Aproveito ainda a oportunidade para apelar à população para a adopção de posturas e comportamentos correctos de forma a salvaguardar todas as pessoas, mais concretamente:
– Evitar o contacto social;
– Lavar com frequência a mãos com água e sabão, ou usar uma solução à base de álcool;
– Quando espirrar ou tossir, tape a boca e nariz com o cotovelo ou com um lenço de papel;
– Dar particular atenção aos grupos de risco (pessoas com idade igual ou superior a 70 anos, doentes oncológicos, doentes hemodialisados; doentes com imunodepressão, diabéticos, doentes com outras patologias crónicas);
Com humildade peço a todas as pessoas, POR FAVOR PROTEJAM-SE…SEJAM AGENTES DE SAÚDE PÚBLICA…
Vai ficar tudo bem.
3º Na época que nos encontramos, o risco de incêndios florestais/rurais é enorme. Solicito que todos adoptem comportamentos correctos evitando a execução de fogueiras, queimadas, etc., pois Portugal sem fogos depende de todos… Em caso de incêndio ligue 112.

Por último, permitam-me a ousadia de executar um alerta à população: às segundas-feiras por norma, é possível serem verificadas algumas pessoas ataviadas com uniformes semelhantes a Bombeiros, as fazerem peditórios junto ao recinto da feira semanal e junto a diversas rotundas, passando a mensagem que o objectivo do peditório será para a aquisição de ambulância e passando desta forma a imagem como sendo um peditório a favor dos Bombeiros de Tondela. Alerto que tais pessoas não pertencem ao Corpo de Bombeiros Voluntários de Tondela, nem os peditórios executados revertem a favor da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Tondela. Contudo informo que os Bombeiros de Tondela quando executam qualquer peditório, fazem-no devidamente uniformizados e possuindo nas imediações veículos pertença do Corpo de Bombeiros, os quais se encontram devidamente caraterizados

MJJ

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