Produto genuíno de Tondela, a loiça preta de Molelos, de origem ancestral, passou, a partir de 8 de Setembro, a fazer parte de uma lista de 19 produtos certificados em Portugal continental e o segundo de barro preto.
Contudo, é aquele, nesse ramo artesanal, que tem o maior número de unidades de produção, nada menos de sete, que receberam certificação que, além do documento, cada artesão recebeu um carimbo com o logótipo da loiça preta de Molelos a fim de ser colocado nas peças que manufactura.
Deste modo, José Lourosa e Luís Lourosa (Artantiga), António Duarte (O Feitiço da Púcara), António Marques (Olaria Barro Preto), Maria Fernanda Marques, Xana Monteiro Ceramic e Carlos Lima, foram as unidades e os artesãos certificados pela “a.certifica”, o organismo responsável por todo o processo.
A cerimónia simbólica de colocação das etiquetas nas peças e de entrega dos certificados e dos carimbos, aconteceu no agora belo espaço da Soenga, em Molelos, perante o presidente do Município de Tondela, José António de Jesus e do presidente da Junta de Freguesia local, José António Dias, onde Teresa Costa, da “a.certifica”, explicou que foi elaborado um caderno de especificações com a forma de produção e técnicas usadas, o qual serviu de guia para a certificação.
“Com este caderno, viemos visitar as unidades produtivas, verificar a produção e, estando em conformidade, atribuímos hoje a autorização para utilizarem a marca “Louça Preta de Molelos” como indicação geográfica e, desta forma, dizer ao consumidor que estão a produzir esta louça”, disse.
INDICAÇÃO GEOGRÁFICA PARA PROTECÇÃO A NÍVEL EUROPEU
Por seu turno, Fernando Campos, do CEARTE (Centro de Formação Profissional para o Artesanato e Património), explicou que estas produções estão protegidas pela “figura jurídica que é indicação geográfica” e que está a ser desenvolvido um trabalho na União Europeia para que estas indicações geográficas “passem a ter uma protecção a nível europeu e não só a nível nacional como agora acontece”.
“As produções que estão protegidas com indicação geográfica não alimentar vão passar a dispor também desse alargamento comunitário tal como os queijos e enchidos. Isso pode significar que, a partir do próximo ano, estas produções tenham um horizonte de divulgação e de promoção alargado ao contexto da União Europeia, o que, acreditamos, poderá ser essencial para a projecção destas produções no mercado internacional”,
O responsável do CEARTE sublinhou que a conclusão da certificação não é “o fim de um processo, mas é, essencialmente, o arranque de uma nova etapa na promoção e desenvolvimento destas produções”. Elogiou, ainda, a “participação activa dos artesãos”, “um sucesso exemplar”, algo que “nem sempre se consegue”.
UM VALOR ACRESCENTADO PARA A ARTE DE MOLELOS
Já o presidente do Município de Tondela, a que Molelos pertence, sublinhou que o importante “é preservar a memória, a identidade e, acima de tudo, dar-lhe valor acrescentado”. “Esta certificação torna única cada peça que é feita, pela certificação que tem, pelo número sequencial e pelo processo de cozedura ou de produção que fica registado”, afirmou José António de Jesus.
As etiquetas que acompanham as peças têm um número sequencial, o tipo de cozedura (Soenga, forno a lenha ou forno a gás) e uma impressão holográfica que não é possível copiar.
A atribuição de certificação é válida por um ano, pelo que os artesãos terão de a renovar anualmente, se assim o entenderem. “(A certificação) não é um fim, é um patamar importante que se atinge e que agora, ano a ano, se vai balanceando para que se mantenha esta certificação, se possa ganhar mais escala, mais mercado, mais valor acrescentado e se preserve a memória com estes traços tão genuínos e identitários”, defendeu o autarca.
Segundo os artesãos, a certificação é um passo importante para a valorização do produto, além de que, o reconhecimento da loiça preta de Molelos, irá ajudar ao negócio.
JOAQUIM DUARTE PEREIRA