Sexta-feira , Maio 10 2024

FUI CONTAGIADA PELA FEBRE AMARELA

No meio de dois portistas ferrenhos, a ida a um jogo Tondela-Porto, avizinhava-se como uma noite problemática, não fosse o facto de um deles ser meu pai e outro, o marido da minha irmã, e acredito que a coisa tivesse descambado, tal era a minha vontade em que o Tondela vingasse. Mas logo à chegada, os portistas que me acompanhavam tiveram que perceber que o Tondela é um clube maior, é que a senhora que vendia cachecóis apregoava, “dois do Porto, 5€, um do Tondela, 5€, claramente o prestigiante cachecol do Tondela era mais caro, já os do Porto, cada um a 2,50€, até pode levar dois, leve-os a todos, que eu não quero cá isso, parecia afirmar a senhora. Já os do Tondela, se não quiser, há mais quem queira. Paguei os 5€ e segui contente com o cachecol amarelo e verde, que me serviu mais tarde para proteger da noite que se tornou mais fria, mas não ao ponto de ser desconfortável. Estava uma bela noite.
Bem sei que para quem perde, os prémios de consolação, de pouco servem. Mas viram há pouco tempo aquela goleada do Benfica frente ao Nacional? 10 golos? Até a mim me doeu a alma. O Tondela levou três golos frente a um clube que já venceu duas vezes a Taça dos Campeões Europeus / UEFA Champions League, duas vezes a Taça UEFA / Liga Europa, mais duas vezes a Taça Intercontinental / Campeonato do Mundo de Clubes e uma vez a Super Taça Europeia. Clubismos à parte, estamos a falar de um dos maiores clubes de Portugal e do mundo. E o Tondela esteve à altura, honrou o seu clube e as suas gentes. Não foi humilhado nem espezinhado. O Tondela deu luta. E eu sou do Tondela desde pequenina, não direi desde pequenina, vá, mas desde que tive o privilégio de conhecer duas pessoas maravilhosas do concelho: uma ex-camarada do jornalismo, de sublime competência, que considerarei sempre amiga, e a distinta diretora deste jornal, cujo elo de amizade reside no facto de também eu ser diretora de um jornal com mais de 100 anos, que nos manterá próximas por mais cem anos de vida, assim espero.
Mas voltando às quatro linhas, o futebol é um jogo de equipa e como tal não vou desdobrar-me em referências sobre quem esteve melhor em campo, à exceção do Delgado, que andava com uma máscara preta, por motivos de lesão e mesmo assim a jogar. Pensava eu, “se lhe mandam uma bola à cara, aquilo protegerá”? São ossos de um ofício que os jogadores do Tondela demonstram dominar. Mas não pensem que este é um artigo só de elogios. Tenho uma crítica a fazer, aliás sugestão de melhoria. Observar a claque do Porto, os Super Dragões, a forma como se manifestam, faz me pensar na capacidade de mobilização em torno de algo. Isto tudo para dizer que a claque do Tondela tem que fazer mais estardalhaço, e apesar de ser uma bancada cheia de tondelenses, as palmas, as cantorias vinham de um núcleo bem mais restrito. E os jogadores do Tondela merecem que puxem por eles, alto e bom som. O Tondela arrasta consigo toda uma região que os apoia, a Beira Interior, distante dos grandes estádios, dos grandes duelos futebolísticos, pode agora ver ao vivo e a cores um grande jogo de futebol.
Já perto do apito final, recebi uma notificação do Google maps no telemóvel, que dizia: “O que achou do Estádio João Cardoso?”. Não tenho por hábito classificar os sítios por onde passo. Mas o deslumbramento com o estádio, foi grande e achei que merecia as cinco estrelas e lá coloquei essa classificação. Já visitei outros estádios na região, e não encontramos com facilidade uma infraestrutura tão digna. Airosa, arejada, bem iluminada, com facilidade de acessos, quartos de banho limpos, sim eu sei, são pormenores, mas o Estádio de Tondela, é realmente um espaço de pormenores que fazem a diferença. Quando digo que viver no Interior não deve ser sinónimo de ostracização ou complexo, é porque tenho evidências em demasia, que viver aqui é bom e faz bem à alma. Se não fosse o Clube Desportivo de Tondela, não teria este momento registado na minha memória e em mais uma foto para mais tarde recordar. Não tirei uma selfie com os jogadores do Tondela, pelo adiantado da hora, mas juro que para a próxima não me escapam.
Liliana Carona
Jornalista correspondente da Rádio Renascença
Diretora do jornal centenário Notícias de Gouveia

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