Quando foi anunciado em 2019, o Centro Tecnológico e de Empreendedorismo (CTE) de Tondela surgia como uma das grandes bandeiras da regeneração urbana e económica do concelho.
O projeto previa a reabilitação de antigas instalações vinícolas junto ao rio Dinha, num investimento global de vários milhões de euros — números que variam consoante as fontes, mas que rondam entre 1,5 e 3,5 milhões de euros.
A ideia inicial, tal como noticiado pela Folha de Tondela e pelo Jornal do Centro e pelas comunicações
municipais, era clara: criar um espaço de apoio ao empreendedorismo, inovação industrial e ligação às empresas locais, sobretudo na área do sector automóvel, laboratorial e farmacêutico, automação e robótica, dando resposta às necessidades do tecido empresarial da região e das escolas e instituições universitárias, promovendo a instalação de startups e acolhendo projetos de teses de mestrados ou doutoramentos.
Hoje, o cenário apresenta contornos diferentes. O espaço que nasceu com forte vocação industrial é agora palco de programas dirigidos sobretudo a jovens estudantes, como o Trilho, que aposta em criatividade digital, produção de vídeo, som, fotografia, programação de jogos e integração de Inteligência Artificial.
Este modelo inspirado no modelo internacional Tumo e dinamizado por uma equipa liderada por Pedro Santa Clara, foi apresentada pela presidente de Câmara, Carla Borges no dia 3 de setembro com a presença também de João Costa Ribeiro. Agora o programa gratuito surge com um perfil mais educativo e cultural do que propriamente ligado à base empresarial e industrial que justificou a criação do CTE.
O DESVIO DE OBJETIVOS?
Plano inicial: Infraestrutura para fomentar a instalação de projetos e capacitar empresas em setores técnicos, reforçando a competitividade local. Uma extensão natural da formação tecnológica e universitária, com impacto direto na economia regional.
Plano atual: Programas de literacia digital e criativa para adolescentes, com enfoque em jogos, IA e artes digitais, mais próximos de um laboratório cultural do que de uma incubadora industrial.
Conforme foi apresentado, este programa funcionará uma vez por semana após as aulas, com atividades presenciais gratuitas: quartas-feiras, das 14h00 às 20h00, e sextas-feiras, das 14h00 às 18h00.
Os participantes poderão escolher entre dois “caminhos”:
Criatividade Digital com IA ou Programação e Desenvolvimento de Jogos.
Cada jovem poderá optar apenas por um caminho, sendo que todo o equipamento e software necessário será fornecido, sem necessidade de trazer computador próprio.
Este desvio de foco levanta questões sobre a coerência do investimento. Será que Tondela precisa mais de jovens programadores de jogos ou de técnicos qualificados para as fábricas e empresas do concelho?
Ou poderá o CTE ser capaz de combinar ambas as vertentes — a industrial e a criativa — sem se perder no caminho?
ENTRE A PROMESSA E A REALIDADE
Carla Borges, apesar de procurar colocar Tondela como concelho preocupado com a formação da juventude, o contraste entre a promessa inicial e a realidade presente é evidente.
O CTE nasceu como uma aposta no empreendedorismo ligado à indústria e transformou-se num palco para iniciativas com forte componente de entretenimento e criatividade digital.
A questão que se impõe é se este reposicionamento é fruto de adaptação estratégica — acompanhando tendências e interesses dos jovens — ou se representa uma diluição da visão inicial, que poderia ter gerado impacto mais direto na empregabilidade e competitividade empresarial da região.
Folha de Tondela Jornal centenário da região de Viseu