A tuberculose (ou tísica), atinge proporções de epidemia pela Europa, a partir os anos 20.
Um médico (Jerónimo Lacerda), regressado das fileiras da primeira Grande Guerra, onde a tísica já grassava, e a iniciar a sua vida médica em Tondela, tem a visão e o engenho de olhar para a pacata aldeia do Caramulo (Paredes do Guardão), para o ar puro da montanha, e procurar um grupo de amigos e investidores para transformar essa pacata aldeia na “capital” da cura da tuberculose.
“Aldeia dos Tísicos” retrata assim e mais de cinquenta anos volvidos, uma pequena localidade serrana onde o desenvolvimento e resposta para a enfermidade caminharam lado a lado e construíram um notável património físico e de saúde.
Essa “pequena metrópole de cura “passou a ser, anos a fio, como que “um ambiente de férias prolongadas em hotel”.
E foi assim, num entrar constante de doentes e saída de outros pela cura, ainda que outros também ficando pelo caminho.
As novas descobertas da medicina, com o aparecimento dos antibióticos de eficácia demonstrada na doença, veio aos poucos diminuir a importância e a razão da estância e, assim, “Dos antigos Sanatórios do Caramulo sobram as ruínas e as memórias de doentes, médicos e habitantes”, memórias recuperadas no magnífico documento que é a “Aldeia dos Tísicos”.
A premunição de Abel e João Lacerda procurou dar novo rumo à vida do Caramulo, com a importante visão dos Museus de Arte e Automóvel e alguns projetos comerciais, de que mais tarde nasceu o Hotel, mas não chegaram, porém, para salvar da ruína aquilo que foi o importante pólo do Caramulo. Hoje, do apogeu que foram essas Casas de Saúde, ficaram dois ou três Lares para a terceira idade.
O FILME
A sua exibição, no antigo Auditório do Sanatório ainda com as condições mínimas para o receber, e completamente cheio, teve ali a parceria da ACERT, no apoio logístico, com Miguel Torres, e da Fundação João e Abel Lacerda, com Tiago Gouveia. A Câmara Municipal de Tondela esteve representada pelo Vereador Pedro Adão.
Sete foram os protagonistas do documentário. Podiam ser mais, podiam ser outros, mas foram estes, e bem. Relataram, cada um a seu modo e dentro das experiências ali vividas, o que foi a Estância Sanatorial do Caramulo nas suas diversas facetas, e transmitidas no meio dos escombros do que resta hoje do Grande Sanatório.
À distância e no meio daquela tristeza física, as vivências de então parecem irreais, mas trazê-las à memória trás ao presente a vida agitada mas com regras ali vivida, quando o Caramulo era por excelência o centro da cura da tuberculose na Europa, onde viviam mais de 2.000 pessoas e por onde passaram muitos outros milhares.
O REALIZADOR
O realizador, HUGO DINIS NEVES, é um jovem de 24 anos, Repórter de Imagem, atualmente a trabalhar na SIC.
Ligado ao nosso Concelho (Valverde) pela família, Hugo Dinis disse-nos em conversa (e disse ao muito público presente):
“Sou da zona de Tondela e desde a minha infância que aqui venho muitas vezes. Conhecia o Caramulo, mas não conhecia a sua história e tinha curiosidade em conhecer. Decidi fazer umas pesquisas e fazer um documentário não ao nível arquitetónico ou da medicina, mas mais ao nível humano. Procurei saber quem ainda existia para contar a história e fiz a minha opção, que poderia ter sido outra, mas foi esta.
É um projeto que fiz sem qualquer tipo de ajudas, um projeto pessoal, sem patrocínios e feito durante muitas horas das minhas folgas. Basicamente, o que fiz foi retratar os tempos áureos do Caramulo como estância sanatorial e procurar dar voz às pessoas que aqui trabalharam em diversas áreas.
Foi um desafio grande, até por ser o primeiro filme”.
“ESTÂNCIA” – FOTOGRAFIAS DE CARLOS FERNANDES
Simultaneamente, Carlos Fernandes, licenciado em Artes Plásticas e que já expôs individualmente na ACERT, apresentou imagens do Caramulo que encontrou.
Em “Estância”, mais que um levantamento fotográfico dos sanatórios do Caramulo, Carlos Fernandes… traz-nos “A imponência destes espaços e a humanidade que testemunharam estão ali, naquelas fotografias encenadas”.
PORTO DE HONRA
E a ACERT não quis deixar de trazer-nos ali, para saudar o Momento, um vinho do Porto ruby, que serviu o “Caminho do Elefante” nas várias etapas do Salomão.
Jorge A. Leitão