Quinta-feira , Maio 16 2024

A PÁSCOA E A TRADIÇÃO DO COMPASSO

Por todo o concelho, realizou-se nos seus mais variados costumes e tradições a Visita Pascal ou Compasso.
Embora em declínio e transformação, o «Compasso» ou Visita Pascal é sem dúvida um momento fortemente sentido pela comunidade católica do nosso concelho, na sua vivência festiva do mistério pascal.
Na sua origem esteve a visita do pároco às casas dos paroquianos para aí realizar a bênção e, ao mesmo tempo, delimitar o território da sua jurisdição exercendo também o seu direito a recolher o «folar» e outras contribuições que consubstanciavam a côngrua sustentação que lhe era devida.
O pároco, de batina, sobrepeliz e estola, era acompanhado pelo juiz da confraria/ Irmandade ou pelo sacristão que levava a Cruz com o crucifixo («cum Passo Domino»), por um «oficial» com a caldeirinha da água benta para a aspersão e por outros colaboradores para recolherem os ovos da páscoa (o «folar»).
O nome «compasso» derivará, precisamente, da presença da cruz paroquial com a imagem do crucifixo [=cum Passo], a solenizar o ato litúrgico e devocional da bênção. Essa cruz era engalanada e perfumada numa afirmação expressiva do triunfo pascal do Crucificado-Ressuscitado. Só posteriormente essa cruz, que acompanhava o pároco na bênção das casas da paróquia, vai ser objeto do beijo devoto dos paroquianos e o «beijar da cruz» acabou por se tornar quase sinónimo de receber o «Compasso», a visita pascal.
Com a diminuição do clero paroquial e o crescimento demográfico das paróquias, os párocos deixaram de poder visitar pessoalmente todas as casas da sua área de jurisdição e começaram a delegar: primeiro noutro clero disponível; depois em seminaristas revestidos de batina e sobrepeliz. Por fim – é a situação atual – o grupo que realiza a visita às casas passou a ser constituído integralmente por leigos, homens e mulheres. Com esta evolução o conteúdo essencial do «compasso» alterou-se profundamente: o objetivo já não é a realização da «bênção das casas», mas sim o anúncio festivo da Ressurreição, realizado corresponsavelmente por grupos representativos da «Igreja em saída» que vai levar às ruas e às casas o Evangelho essencial: «Cristo ressuscitou!». O compasso tornou-se, no nosso tempo, um momento de evangelização.
Atualmente o compasso consubstancia-se pelos seguintes sinais:
– A cruz com a imagem do crucifixo.
A ressurreição é significada pelas ornamentações, grinaldas e perfume com que é costume engalanar a Cruz. O beijo à Cruz – que, com o tempo, ganhou importância – pode manter-se. Embora os cuidados sanitários, tenham aconselhado nesta Páscoa outros gestos de veneração.
– O uso da água benzida na noite de Páscoa, como memória fresca do Batismo que faz de nós «fiéis» e «filhos da Igreja» (=«fregueses», paroquianos).
– A reunião das famílias nas suas casas – santuários da Igreja «doméstica» – e a visita entre famílias numa experiência de comunhão da «família paroquial».
– O carácter festivo e jovial que caracteriza esta manifestação, com o tilintar de campainhas anunciadoras e os tapetes primaveris de folhas verdes e flores que falam de renovação.
– A participação dos fiéis leigos na missão evangelizadora da Igreja.
A tradição é precisa na evangelização e renovação da Igreja, e a Visita Pascal é um exemplo de como a Igreja se adapta aos tempos atuais.

MJJ

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