A ACERT, em Tondela, é um Polo onde a cultura brota para a Comunidade cada vez mais abrangente, gerando uma relação de cumplicidade. São anos a construir essa relação, essa cumplicidade.
Ainda há poucos dias a ACERT levou a Lisboa essa cultura identitária do que somos e queremos transmitir, porque o Grupo de Tondela esteve em palcos da Capital.
E a desenvolvida entrevista que José Rui Martins concedeu à TSF, logo para todo o seu vasto espaço de cobertura, retrata bem a dimensão da obra realizada ao longo de quatro décadas e da projeção que o “Trigo Limpo” hoje tem no mundo do teatro e da cultura.
E tudo isto nascido e ganhando formas que hoje são de referência em Tondela, cidade pequena do interior onde por vezes podem faltar recursos, mas onde abundam talentos.
“Há um processo químico que gere a relação da comunidade com o teatro e do teatro com a comunidade. Território, liberdade, cidadania, coletivo, humildade, prazer, são algumas das palavras associadas a esse processo. Um conjunto de criadores é um dos elementos químicos desse processo e é também a equipa enquadradora de todos os outros elementos”
FALAR DE TEATRO EM AMBIENTE DE TEATRO
E essa partilha de saberes e descobertas sobre as coisas do Teatro e sua alquimia, que a ACERT proporcionou abrindo as portas da sua “casa”, no passado domingo, dia 12, teve em Madalena Vitorino, Giacomo Scalisi e Hugo Cruz os “conversadores”, já que de Conversa se tratou. E Pompeu José fez as honras da casa e recordou a caminhada da casa e Nuno santos que teve a tarefa de fazer do debate um espaço de relação entre quem fala e quem escuta, para que em ambos se provoque a sintonia.
NUNO SANTOS começou por apresentar os palestrantes que ali foram falar das suas experiências e sobre aquilo que fazem a partir dos projetos onde estão integrados.
MADALENA VITORINO e GIACOMO SCALISI têm trabalhado ultimamente em projetos de Teatro Comunitário quer no Alentejo quer no Algarve, em localidades de pequenas comunidades, mas onde têm encontrado um rico manancial de cultura local, usos e costumes que enriquecem essas localidades e o seu quotidiano.
São experiências marcantes, que traçam um trajeto e que definem os projetos em que são inspirados. E encontrar pessoas humildes, simples de vida e ricas de trato, mas onde existe um desejo comunitário de participação, de partilha e onde o teatro, a comédia e o imaginário são pontos de referência.
E os seus sonhos são isso mesmo, um imaginário rico que faça transcender o quotidiano aldeão, mas onde a experiência se alarga quando depois de muito trabalho efetuado, as aldeias se aproximam e entrelaçam para em comum viverem e colherem essas experiências. E a vida da Comunidade modifica-se e enriquece-se.
Teatro Comunitário é isso mesmo, essa relação de proximidade que inventa, reinventa e partilha. E no Minho, Alentejo ou Algarve, a descoberta é sempre rica e o “material” a trabalhar molda-se pelo interesse que percorre as veias de cada um que se entrega ao “sonho”.
Mas também na grande Cidade essa relação se mantém. Com outras caraterísticas, fruto de uma cultura diferente, outros espaços, outra dinâmica de vida, outras opções de lazer. E disso nos falou HUGO CRUZ, que do Porto ali foi levar a sua experiência, os projetos em que está ou esteve envolvido, mas no fundo com o mesmo objetivo de contribuir, pela interação, para o enriquecimento da Comunidade e da própria relação comunitária.
E o enriquecimento cultural de Tondela, que a ACERT nos trouxe e é hoje um importante património, ali foi trazido pelo Homem da Casa, POMPEU JOSÉ.
E nesta Cidade pequena, de forte tradição amadora de teatro, é certo, nasceu a Obra em que alguns acreditaram e se fez grande. E a recriação da Queima do Judas, por exemplo, à data feita com certo medo, e ali lembrada, é hoje um espetáculo de luz, cor, som e movimento que se projeta muito para além do território.
Mas a ACERT, ao longo da sua caminhada, tem trazido a Tondela
outros sons, outras imagens, outras culturas, outras vivências, outras gentes. E com isso trazer a Comunidade, a participação, a partilha, o enriquecimento cultural. Mas também a adesão, a participação, a envolvência das entidades oficiais pela qualidade do seu trabalho.
Mas a ACERT também tem levado por aí fora o fruto da sua dedicação, da sua “carolice” pela Causa, de que são muitos os palmarés que coleciona.
As “Conversas” que tiveram lugar no passado dia 12 são bem a preocupação desse “processo químico” que leva a comunicar e que gera essa relação de proximidade e partilha. E a assistência, com perguntas, sugestões, e algumas questões, deu também interessante contributo para se sair dali mais enriquecido.
E a ACERT já leva 40 anos de cultura sem fronteiras.
Jorge A. Leitão