Com apenas 15 anos, Salvador, residente em Tonda e filho da Suzana Cristina Alves Henriques da Silva, presidente da direção da Sociedade Filarmónica Tondelense, aluno da Escola Secundária Tomaz Ribeiro, em Tondela, já soma ao seu percurso musical uma conquista de peso: o primeiro lugar no escalão juvenil do Concurso Internacional de Instrumentos de Sopro de Oliveira de Azeméis, que decorreu entre 7 e 12 de julho e juntou participantes de vários países.
O prémio é o resultado de anos de dedicação ao ensino articulado, modalidade que Salvador frequenta desde o 5.º ano e que lhe permite conjugar as disciplinas regulares com a formação no Conservatório de Música de Santa Comba Dão. “O ensino articulado é basicamente termos as aulas normais da escola, mas, nos horários em que não temos certas disciplinas, como Educação Tecnológica ou Informática, temos as disciplinas do Conservatório, como Formação Musical ou Instrumento”, explicou.
No caso do jovem trombonista, a logística é um desafio. Enquanto alguns professores de instrumento se deslocam à escola, a aula de trombone e a orquestra decorrem no Conservatório, obrigando a deslocações a Santa Comba Dão. Sem transporte dedicado, Salvador depende do apoio da família ou de um autocarro da carreira, que a câmara municipal assegura gratuitamente. “Não é muito fácil, temos que nos articular entre nós, pais e avós, para conseguir levar e trazer”, contou a mãe.
PREPARAÇÃO INTENSA PARA O CONCURSO
A vitória internacional foi alcançada após uma preparação exigente. Salvador manteve aulas de trombone mesmo depois do final do ano letivo, com o objetivo de aperfeiçoar as peças e fazer os ajustes necessários. No concurso, começou por enfrentar a prova eliminatória, em que todos os concorrentes do escalão juvenil interpretaram a mesma peça escolhida pela organização. Dos participantes, seis foram selecionados para a final, onde as pontuações determinaram o pódio.
“Não estava nada à espera de ganhar. Correu muito bem, mas não foi perfeito, e pensei que outros podiam ter mais pontos. Mas mesmo chegar à final já era muito bom”, afirmou.
PAIXÃO PELA MÚSICA DESDE CRIANÇA
O gosto pelo trombone nasceu cedo, quando Salvador tinha apenas seis ou sete anos e entrou para a Escola de Música da Filarmónica da Sociedade Filarmónica Tondelense. Depois de experimentar vários instrumentos, foi o trombone que o conquistou. “É mesmo um gosto pessoal. No início, até não queria entrar para a banda, mas a minha mãe insistiu. Acabei por gostar e hoje sinto que é como uma segunda família”, recordou.
A integração na banda trouxe-lhe também mais confiança, apesar da timidez inicial perante músicos mais experientes. Com o tempo, o convívio e a partilha fortaleceram o seu gosto pela prática musical.
DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO ENSINO ARTICULADO
O dia-a-dia de Salvador é preenchido. Entre as aulas na escola e os ensaios no conservatório, sobra pouco tempo livre. “Às quartas-feiras, que é quando todos têm tarde livre, nós vamos para o conservatório ter ensaios de orquestra ou de grupos de sopros. Às vezes é cansativo, mas faz parte”, contou.
Sobre a perceção dos colegas em relação à sua dedicação à música, diz que há opiniões divididas: “Alguns acham que é uma perda de tempo e preferem dedicar-se ao desporto, outros dizem que, se tivessem tido a oportunidade no 5.º ano, também teriam entrado.”
Para Salvador, o ensino articulado é importante por criar novas perspetivas e ajudar a desenvolver competências que vão para além da música. A mãe acrescenta que “as artes em Portugal ainda têm muitas dificuldades de inserção profissional, mas a experiência e a paixão que se ganha são insubstituíveis”.
FUTURO AINDA EM ABERTO
Quanto a
o futuro, Salvador admite que poderá não seguir música no ensino superior. A área da informática também o atrai, e por isso prefere manter as opções em aberto. “Antes queria seguir música, mas agora não sei. Há coisas que gosto mais, como a informática. Ainda estou a decidir”, disse.
Ainda assim, garante que vai continuar ligado à música e a frequentar o ensino articulado até ao 12.º ano. Para ele, o importante é manter o prazer de tocar e continuar a evoluir.
MÚSICA COMO FERRAMENTA PARA A VIDA
Para Salvador e para a família, a música tem um papel essencial não só no desenvolvimento artístico, mas também pessoal. “A música ajuda na concentração, na disciplina e até no relacionamento com os outros”, afirmou. A mãe recorda até a opinião de um médico, também músico, que lhe disse que “todos os médicos deviam ser músicos, porque desenvolvem muito mais o ouvido e a atenção aos detalhes”.
Entre ensaios, concertos e prémios, Salvador segue o seu caminho com humildade e entusiasmo, certo de que, independentemente do percurso académico que escolher, a música continuará a ser parte fundamental da sua vida — e a prova disso é a distinção internacional que trouxe para Tondela, orgulhando a escola, a família e a comunidade.
MJJ/ Matilde Jesus
Folha de Tondela Jornal centenário da região de Viseu