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MOLELOS – SOENGA NO PARQUE DA RAPOSEIRA

A soenga é uma cova aberta numa clareira, de tamanho variável em função da quantidade de loiça. Chega a ter vários metros de diâmetro, podendo cozer mais de uma centena de peças. Com duração de cerca de duas horas, a atividade compreende três momentos distintos, denominados de aquecimento (destinado a evitar que a loiça se parta por efeito de uma brusca elevação da temperatura), cozedura e abafamento.

O processo de aquecimento dura cerca de 20 a 30 minutos. A temperatura estimada é de 450º neste ponto, no entanto, todo o processo é baseado num conhecimento empírico, de leitura dos sinais, do som e da cor da loiça e do tempo, que a repetição da tarefa ensina a calcular. As peças são colocadas em círculo, com as aberturas viradas para o centro, onde se acende a “moínha” ou “argaço”.

Uma vez extinto o primeiro fogo, é o momento da montagem ou arrumação da soenga, que exige muito conhecimento do oleiro, de modo a conseguir uma cozedura o mais uniforme possível e evitar a perda de peças. Em alguns locais prepara-se o fundo da soenga com uma cama de cacos para criar uma câmara de ar. A loiça é empilhada, começando pelas peças maiores ao centro. Depois, são colocadas as peças médias e as pequenas são arrumadas nos intervalos. A pilha é coberta com lenha de pinheiro e caruma ou palha, de modo a garantir uma boa combustão, que dura cerca de 45 minutos. Quando as peças adquirem uma coloração laranja é o momento em que a soenga atinge a temperatura máxima, a cerca de 900º. É o sinal para dar início à terceira fase, o “abafamento”, em que a soenga é coberta com grandes quantidades de caruma e depois com carvão “enxuto” (carvão guardado da soenga anterior), compactando muito bem, de modo a evitar qualquer entrada de ar e garantir o isolamento total da soenga. Durante cerca de 45 minutos, a decomposição dos vapores orgânicos da combustão dos materiais combustíveis resinosos provoca a defumação, que confere a coloração negra à loiça. A desmontagem da soenga ocorre cerca de 24 horas depois, tempo que permite o arrefecimento das peças de forma gradual. Ainda assim, as peças são retiradas ainda quentes, com a ajuda de um pano ou “ranhão”. As peças estão prontas.

Durante o fim-de-semana de 18 e 19 de maio, em Molelos a terra do barro preto, sete oleiros fizeram reviver a tradição secular desta empreendedora freguesia.

O evento decorreu no Parque da Raposeira, construído para o efeito em 2021, pela junta de freguesia de Molelos, com o presidente José António Dias e pela Câmara Municipal, sendo presidente José António Jesus, num investimento de cerca de 230 mil euros. Foram construídos vários equipamentos de apoio à soenga, como o barracão da soenga, assadores, água potável, casas de banho para além de arruamentos, passeios, iluminação e arranjos exteriores, e outras acomodações de bem-estar, com árvores, relvados e bancos, ficando ainda previsto uma avenida que ligue à estrada 627, na zona do Tojal Mau e Nandufe, ainda não realizada.

E como em 8 de setembro de 2021 e publicado em Diário da Republica em março de 2024, a loiça preta de Molelos, de origem ancestral começou a fazer parte de uma lista de 19 produtos certificados em Portugal continental e o segundo de barro preto, permitindo a promoção alargada ao contexto da União Europeia, tornando ainda mais relevante a memória, e a identidade desta freguesia e dos oleiros, mais importante ficou o barro negro, publicado em Diário da República em março de 2024.

Nesta certificação, cada artesão recebeu um carimbo com o logótipo da loiça preta de Molelos a fim de ser colocado nas peças que manufatura.

Deste modo, José Lourosa e Luís Lourosa (Artantiga), António Duarte (O Feitiço da Púcara), António Marques (Olaria Barro Preto), Maria Fernanda Marques, Xana Monteiro Ceramic e Carlos Lima, foram as unidades e os artesãos certificados pela “a.certifica”, o organismo responsável por todo o processo.

A cerimónia simbólica de colocação das etiquetas nas peças e de entrega dos certificados e dos carimbos, aconteceu no belo espaço da Soenga, em Molelos, perante o então presidente do Município de Tondela, José António de Jesus e do presidente da Junta de Freguesia de Molelos, José António Dias, onde Teresa Costa, da “a.certifica”, explicou que foi elaborado um caderno de especificações com a forma de produção e técnicas usadas, o qual serviu de guia para a certificação.

“Com este caderno, viemos visitar as unidades produtivas, verificar a produção e, estando em conformidade, atribuímos hoje a autorização para utilizarem a marca “Louça Preta de Molelos” como indicação geográfica e, desta forma, dizer ao consumidor que estão a produzir esta louça”, disse na altura.

A soenga e o barro negro de Molelos, tem um lugar próprio de demostração está certificada e por isso mais protegida, e é uma marca de identidade de um povo resiliente, dinâmico e exigente com as sua coisas.

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