Terça-feira , Abril 9 2024

“ALMINHAS” – GUARDÃO DE CIMA/GUARDÃO DE BAIXO

Para os primeiros cristãos só existia o Céu e Inferno. O conceito de Purgatório só vem a surgir na Idade Média quando a Igreja, na sequência do Concílio de Trento de 1563, o impõe como dogma. Passa assim, a existir um estado intermédio para as almas das pessoas que faleciam.
Portugal é o único país que na sequência deste Concílio cria “As alminhas”, sendo por isso, uma criação genuinamente portuguesa. Estes monumentos são marcas profundas da religiosidade popular. Simbolizam as Almas do Purgatório, que pedem aos vivos para se lembrarem delas, para se purificarem e subirem até ao Céu.
Estes marcos de uma época e religiosidade de um povo são construídos em pedra granítica, com cruzes esculpidas em diferentes formas e significados. Por vezes têm um pequeno nicho esculpido com azulejos pintados. As alminhas ficam situadas habitualmente, à beira de caminhos rurais, início de pontes e encruzilhadas. Ainda, há poucas décadas, era comum, quem passasse junto às alminhas parar, curvar-se e tirar o chapéu em respeito, colocar flores, acender uma vela ou lamparina de azeite, fazer o sinal da cruz e rezar o Pai Nosso e Avé Maria. No norte e centro do país é onde se pode encontrar um maior número de alminhas. Nas aldeias do Guardão de Cima e Guardão de Baixo existem várias alminhas apelando às rezas cristãs, ao longo dos séculos. No Caminho de Santiago que passa pelas duas aldeias encontra -se uma do lado esquerdo, antes de chegar à ponte. Recentemente, ao se realizarem obras de melhoria neste caminho, uma alminha secular com a Cruz da Trindade esculpida, foi encontrada depois da ponte. No entanto, precisa de ser recuperada e colocada no lugar devido. Existe uma no quintal, em casa particular, outra no Largo do Rio em Guardão de Cima. Junto a esta última, como a protegê-la, encontra-se um carvalho muito antigo e bonito que sempre cortado rente, volta a renascer. (foto 1) Na rua Principal e colocada por cima de uma fonte também lá está uma Alminha.
Parte deste património representativo da religiosidade popular do Guardão e de toda a serra do Caramulo está a degradar-se. Alminhas rodeadas por silvas, musgos, outras com vestígios de abandono. Nesta zona serrana do concelho, a indiferença predomina perante estes monumentos artísticos/religiosos que são fruto da imaginação e devoção do povo. Merecem e devem ser conhecidos, recuperados e valorizados. É um legado dos nossos antepassados, são a sua memória. É do interesse de todos, os que habitam e visitam as nossas aldeias. É necessário, pelas entidades competentes e povo, ações no sentido de valorizar, proteger e dar a conhecer a sua localização, com a sinalética devida.
Um povo com memória, valoriza o seu território, o seu património e tem o poder de se afirmar!
Lurdes Marques

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