102 ANOS DOS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE TONDELA MARCADO PELO ADEUS AO COMANDANTE ADELINO COIMBRA E POR CRÍTICAS À TUTELA

É sempre marcante o aniversário dos Bombeiros de Tondela, que ocorre no dia 16 de setembro, dia de Santa Eufémia.

A população acorre em força para observar os bombeiros durante a procissão, porque são eles que levam o andor num ato de fé, de esperança e devoção. Depois, felizmente, há sempre um carro a ser benzido e mostrado à população que vê assim a corporação a apetrechar-se com todos os meios para a defesa da população do concelho. Este ano foi um Veiculo Florestal de Combate a Incêndios, com 12 anos.

Este ano, os bombeiros marcharam sob o peso da saudade e da comoção pela perda recente do comandante Adelino Coimbra, que foi uma figura marcante, pela dedicação, pela capacidade de pontes, pela serenidade e amor que colocava nas coisas dos bombeiros.

Foi lembrado juntamente com outros na romagem ao cemitério, e os seus filhos tomaram o seu lugar para apadrinhar a título póstumo a nova ambulância.

Na sessão solene, que é o centro das comemorações, apresentada com muita dignidade pela jovem Beatriz Marques, os responsáveis pela associação, quer o comando, quer os órgãos sociais, tecerem várias criticas ao poder, prevalecendo, no entanto, a gratidão e o sentido de missão dos bombeiros nas intervenções.

Na sessão estiveram presentes o Secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território, Dr. Silvério Regalado, assim como as autoridades locais civis e religiosas e foram agraciados com as medalhas de dedicação de assiduidade e medalha “Jornadas mundiais da Juventude”, vários bombeiros e elementos da direção, bem como outros foram promovidos de bombeiros de 1ª e de 2ª.

Este é sempre um momento de partilha com a família e de muita emoção, porque ser bombeiro não é para qualquer um.

Das várias intervenções, destacamos a intervenção do Comandante dos Bombeiros Voluntários de Tondela, Nuno Pereira e do presidente da direção, António Mano.

Na sua intervenção, o comandante Nuno Pereira, referiu-se ao comandante Adelino com emoção e camaradagem, e disse que o “ano de 2025 está a ser muito difícil, muito trabalhoso, muito preocupante e por vezes angustiante” pelo elevado número de ocorrências registadas que estão a provocar um enorme desgaste nos Bombeiros, e no parque automóvel.

Referiu o sentimento de desolação quando verificam que algumas organizações usam e abusam da instituição Bombeiros Voluntários, bem como da sua boa vontade.

Nuno Pereira, alerta que os bombeiros estão fartos e que exigem respeito “perante a conjuntura que vivemos, está mais do que na altura de “quem de direito” dizer o que pretende de nós. O que pretende dos nossos Bombeiros. Será que somos dispensáveis? Será que somos um problema? Será que querem acabar com os Bombeiros Voluntários? É necessário que exista coragem de forma a serem encontradas soluções políticas que possam permitir rejuvenescer, robustecer e modernizar os Bombeiros da nossa Nação”.

Defende “que de uma vez por todas seja definida uma carreira para os colaboradores das Associações Humanitárias de Bombeiros Voluntários, vulgarmente intitulados de “Assalariados” que exista uma valorização dos Bombeiros integrados nas Equipas de Intervenção Permanentes existentes nos Corpos de Bombeiros”. Que sobretudo “haja investimento em várias áreas da formação dos Bombeiros, desde as categorias de Bombeiro de 3ª até às Chefias. Defende ainda que os seguros dos Bombeiros Voluntários sejam revistos e atualizados e que exista redução na idade da reforma sem haver qualquer tipo de penalização para o Bombeiro”. Entende que deve existir verbas comunitárias para renovar o parque automóvel dos Bombeiros de Portugal, a semelhança do que se passa noutros países (Espanha, França, etc.), bem como que seja retomado o Plano de reequipamentos dos Corpos de Bombeiros abandonado há anos no qual sejam incluídos a aquisição de veículos de socorro, equipamentos de proteção individual para incêndios estruturais, entre outros”.

“Que urgentemente seja executada uma alteração, ou suspensão, do Regulamento de Especificações Técnicas dos Veículos Operacionais dos Corpos de Bombeiros, operado através do Despacho nº 1240/2024 de 01 de Fevereiro, o qual está a mutilar e a comprometer a operacionalidade dos Corpos de Bombeiros” e “que urgentemente seja alterado o Regulamento de Uniformes, Insígnias e identificações dos Bombeiros Voluntários, operado através da Portaria nº 226/2025/1 de 20 de Maio”.

O comandante continuou a exigir que “exista um correto modelo de financiamento às Associações Humanitárias de Bombeiros Voluntários, de forma a que estas possam desenvolver a sua missão evitando desta forma o andar de “mão esticada” para poder ajudar o nosso povo, que seja permitida a utilização de gasóleo verde nos veículos de socorro, que exista legislação competente de forma a permitir que o Bombeiro Voluntário possa ausentar-se do seu emprego para ocorrer a ações de socorro, sem haver qualquer tipo de penalizações para o próprio, bem como criar mecanismos para que as Entidades Empregadoras possam ser ressarcidas de possíveis prejuízos causados “

A lista continuou com o comandante alertar para a necessidade das autoridades investirem nos bombeiros que são na cadeia da Proteção Civil Nacional os primeiros a responder a qualquer ocorrência.

Congratulou-se com a direção dos bombeiros pela a aquisição de equipamentos de proteção individual para combate a incêndios estruturais, os quais são o garante da integridade física, bem com da segurança do Bombeiro num qualquer difícil Teatro de Operações. “Foi o concretizar de um sonho”, disse.

António Mano, presidente da direção dos bombeiros, com grande comoção começou por lembrar o grande amigo comandante Adelino.

Depois das saudações iniciais, o presidente agradeceu a todos os bombeiros pela dedicação e trabalho. E declarou que não tem palavras para “descrever o que sinto quando se vê o nosso país a arder em banho maria”. Realçou que a toda a hora há um emitir de juízo sobre a ação dos bombeiros e sobre o seu comando. Critica estas vozes que de “bombeiros não percebem nada, nem de fogos”, mas que a reboque só pretendem protagonismo. “Meus caros, não vale tudo, deixem-nos em paz”, disse, “deixem-nos trabalhar, que sabemos muito bem desempenhar as nossas funções e ocupar o nosso lugar”.

Falou das dificuldades, sobretudo de dinheiro e lembrou que a corporação adquiriu os equipamentos de proteção individual para combate a incêndios estruturais, muito necessários à proteção dos homens e mulheres bombeiros(as).  Aproveitou a presença a presidente de Câmara, Carla Borges, para a questionar se apoiava esta aquisição, que conhece desde 2024.

Depois agradeceu ao comandante Nuno Pereira pela colaboração e bom relacionamento com a direção, agradeceu também aos seus colegas de direção, à apresentadora Beatriz Marques, pelo seu amor e dedicação à causa dos bombeiros e sobretudo à família que compreende e desculpa o tempo que não passa com eles, porque está a trabalhar para os bombeiros.

A intervenção da presidente da Câmara, aguardada com alguma expectativa, perante a pergunta colocada pelo presidente da direção dos bombeiros, foi de circunstância, dando os parabéns por mais um aniversário. Quanto ao apoio pedido, a presidente nada disse, mas sabe-se já que não apoiou, porque no dia 23 de setembro, os bombeiros publicamente informaram a população que tinham adquirido os fatos No Mex no valor de 90 mil euros, sem o qualquer tipo de apoio.

Ao terminar esta reportagem deixamos o texto de autoria da Beatriz Marques, sobre o comandante Adelino lido na sessão solene, que deixou os presentes comovidos.

“Adelino Coimbra Augusto, natural de Tondela, dedicou uma vida inteira ao serviço da comunidade, movido por um profundo sentido de dever, coragem e humanidade. Filho de Alfredo Augusto e de Ana Marques Coimbra, nasceu a 12 de maio de 1938 e, desde cedo, revelou a vocação para servir os outros.

Ingressou no Corpo de Bombeiros Voluntários de Tondela em 1957, iniciando um percurso notável que o levaria a desempenhar funções de grande responsabilidade, culminando no cargo de Comandante, que assumiu em 1977. Liderou com firmeza, sabedoria e espírito de missão, tendo estado à frente de operações marcantes, como o trágico acidente rodoviário de 1988 que vitimou dois colegas, ou o desastre ferroviário de Alcafache, em 1985, onde assumiu o comando das operações.

A sua dedicação foi reconhecida com diversas distinções pela Liga dos Bombeiros Portugueses, entre as quais se destacam medalhas de prata e ouro pelos serviços prestados à pátria e à comunidade.

Para além da sua entrega aos bombeiros, Adelino Coimbra Augusto foi também um trabalhador exemplar na empresa URFIC – Indústria de Ferragens, onde trabalhou durante 33 anos.

Atravessou gerações e testemunhou transformações profundas, sem nunca perder o espírito de camaradagem e dedicação.

No dia 27 de agosto de 2025 partiu um homem bom. Hoje vamos relembrá-lo. Nunca haverá palavras suficientes para enaltecer e fazer jus à grandeza do seu ser, mas tentaremos.

Exemplo, sorriso afável, despretensioso, cuidador, meigo, amigo e mentor, assim era o nosso Comandante Adelino Coimbra Augusto.

Dedicou parte da sua vida a uma causa tão nobre, cuidar do próximo:

servir quem precisava, ajudar sem esperar recompensas, guiar sem exigir aplausos. Era alguém cuja humildade se destacava tanto quanto a coragem. O Comandante Adelino deixa-nos uma memória que transcende o tempo.

Recordaremos para sempre o seu olhar sereno e risonho, o gesto amigo e a dedicação incansável a tudo o que amava. A sua vida foi marcada por um amor profundo à família, pela entrega total aos Bombeiros e pelo compromisso constante com a comunidade que tanto respeitava.

Mais do que ocupar um cargo ou desempenhar funções, o Comandante Adelino transformava cada responsabilidade numa missão de serviço, transformando desafios em oportunidades de ajudar e proteger. A sua liderança era sentida, não imposta; o seu exemplo, seguido, não exigido.

Na comunidade, era referência silenciosa, presença segura, amigo leal.

Aos que se cruzavam com ele, transmitia coragem e esperança, ensinando que a verdadeira força se mede pelo amor ao próximo e pela capacidade de servir sem esperar reconhecimento.

Cada aniversário desta Associação, atrevo-me a dizer, que seria, para si, dos dias mais importantes do ano. Era o dia em que a farda voltava a ser reerguida com orgulho, era o reencontro para reviver memórias de luta e camaradagem ao lado dos tantos homens e mulheres que, como ele, enalteceram o lema Vida por Vida e era o olhar orgulhoso e terno de ver tantos jovens bombeiros que, com coragem e determinação, lhe seguem os passos. Hoje, era um dia muito feliz.

Hoje, enquanto choramos a sua ausência, celebramos a vida de um homem cuja memória será eterna. O seu legado de humanidade, coragem e dedicação permanecerá vivo em cada canto da nossa cidade e do nosso quartel, inspirando cada gesto, cada decisão e cada coração que teve a sorte de o conhecer.

À sua mulher, Fernanda, que partilhou com ele uma vida de amor;

Aos filhos, Carlos e Rui, herdeiros de valores e princípios que nunca se apagarão;

Às noras, Andreia e Elisa, que conheceram nele um exemplo de amor, de sabedoria e de abnegação;

Aos netos, Catarina, Tomás e Maria Joana, que terão para sempre, no coração, o abraço e o olhar de um avô que ensinava a vida com ternura e firmeza;

A toda a família e amigos, que sentem a ausência, mas guardam viva a memória do seu legado;

A toda esta Associação, que foi moldada e fortalecida pelo seu espírito que continuará a arriscar e a avançar sempre guiada e amparada pela sua referência;

E a todos os que viram nele um exemplo de valor humanitário, coragem e compromisso;

Estaremos aqui. Estaremos juntos para honrar a sua vida, perpetuar os seus ensinamentos e manter acesa a chama de um homem que transformou cada gesto em legado e cada momento em inspiração.

O Comandante Adelino partiu, mas a luz do seu exemplo jamais se apagará”.

MJJ

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