Folha de Tondela Jornal centenário da região de Viseu
A actividade das vindimas, faz parte da memória colectiva de todos os tondelenses. Era a época em que todos os braços, até dos estudantes era necessário para a apanha da uva, que dará o saboroso néctar, essencial para a economia das famílias.
Ontem como hoje, a vinha e a produção do vinho é a actividade agrícola com maior peso na economia nacional.
Portugal tem cerca de 239 mil hectares de vinha, e é o sétimo país do mundo com mais área de vinha.
O território do concelho de Tondela, pertence à região demarcada do Dão e tem vinhas com história. É o caso da Sociedade Agrícola do Casal de Tonda, S.A., situada em Tonda, empresa constituída pelo Dr. Manuel Ferraz da Costa, que foi o primeiro produtor e engarrafador de vinhos da região do Dão, com o vinho Casal de Tonda.
Esta empresa foi mais tarde adquirida pelo empresário Joaquim Coimbra, que para além da reestruturação das parcelas existentes aumentou a área de produção, acompanhando as grandes mudanças que na época, a vinha e a produção do vinho, vinha a sofrer.
Hoje tem cerca de 19hectares de vinha útil, distribuída por oito parcelas e localizando-se toda na freguesia de Tonda.
O jornal “Folha de Tondela” conjuntamente com a rádio “Emissora das Beiras”, foi ver como esta empresa faz a vindima e numa conversa informal e descontraída quer com a gerente D. Maria João Almiro Coimbra, quer com o Engenheiro deste processo, Eng. António Mano, foi apurando como as novas técnicas aliadas às características do solo, os processos de cultivo, tratamento e colheita se traduz no final num vinho tão conhecido dos tondelenses como é a Quinta dos Grilos tinto e branco.
Esta empresa tem outras marcas porque tem mais hectares de vinha localizada em outras freguesias do concelho, nomeadamente Vilar de Besteiros e Canas de Santa Maria.
Nesta vindima em Tonda o que nos surpreendeu foi a tecnologia a vindimar.
É uma máquina que vindima “abanando a videira”, que apenas apanha o bago que estiver maduro deixando na videira o podre, o seco e também o cadraço, depois esta máquina tem uns tapetes, que separa e expele as folhas para fora, bem como tem um íman que recolhe outros elementos, como algum arame que possa ir na “vindima” feita pela máquina.
De acordo com o Eng. António Mano esta máquina agrícola “veio dar uma maior rentabilização do trabalho das vindimas” não só na gestão do pessoal “porque passamos de 50 ou 60 pessoas para 12, bem como a recolha em tempo curto, este ano entre a uva vindimada e o chegar à adega é menos de duas horas, “porque é importante a temperatura e a protecção do que é vindimado”, o mesmo profissional refere “os tegões levam sempre metabissulfito, ou seja tudo o que daqui saí já vai protegido”, para que a qualidade do vinho seja precavida.
O Eng. Mano refere que com esta máquina as vindimas decorrem com maior rentabilidade e que neste processo com 3 ou 4 pessoas são suficientes.
“Não aplicamos herbicidas nas nossas vinhas”
Outra característica desta empresa vinícola é que não aplicam herbicida nas vinhas. Refere a D. Maria João “que as pessoas em Tonda até dizem que as vinhas do Casal de Tonda tem erva” mas de acordo co
m esta empresária “este é o nosso contributo para o ambiente”, e também segundo ela “para o bem-estar das videiras” porque entre algumas linhas (carreiras) é passado uma capinadeira, nas outras vinhas de casta mais especial “temos
mais cuidado, faz-se manualmente uma descava ou uma raspagem com a enxada virando a leiva permitindo que as raízes pastadeiras retenham mais a humidade, fazendo assim que o calor não as seque.
Esta decisão da empresa tem um custo mas que segundo a D. Maria João “o benefício é sempre maior que o custo, porque se todos contribuirmos um bocadinho nas boas práticas na protecção do ambiente estamos a contribuir para um mundo melhor, esta é uma mensagem importante que devemos deixar aos mais novos.”
“Este ano é uma das melhores vindimas”
Segundo o Eng. António Mano que já fez nesta mesma empresa 20 vindimas “não tenho memória de um ano como este”.
Nos últimos quatro anos chega-se a Setembro sempre com grandes expectativa e depois “como eu tenho dito acabamos por morrer na praia, quando as coisas poderiam correr bem há as chuvas, como aconteceu no ano passado”.
Este ano foi um ano extraordinário para as vinhas com um tempo seco com boas produções e depois a chuva de 15 e 16 de Setembro, que choveu
na casa de 55 a 60ml por metro quadrado, “que se tivessem sido em Agosto teríamos antecipado as vindimas, não era preciso chegar a Outubro”, criou condições para a maturação da uva criando expectativas de uma das melhores produções de sempre, segundo este profissional “o ano 2015 vai ser um ano extraordinário para o vinho”.
Empresa exportadora
Por tudo isto verifica-se que esta é uma empresa de sucesso e que para além do mercado nacional já tem mercados internacionais onde os seus vinhos são exportados, nomeadamente para a Europa, para o Brasil, para os Estados Unidos da América e para a China.
Ao longo dos anos os seus vinhos são premiados nos vários eventos e concursos nacionais e internacionais de vinhos.
A vindima das castas especiais
Neste processo as castas especiais que vão dar origem a vinhos de excelência são nesta empresa vindimados manualmente.
O jornal “Folha de Tondela” foi encontrar cerca de 12 pessoas que com a mestria e a tradição do antigamente apanhavam a uva com a mão depois do corte numa simbiose de tacto e carinho que torna diferente estes vinhos.
A alegria, o borburinho desta azáfama fez lembrar as vindimas de outrora em que grupos de mulheres e de homens “invadiam” as vinhas e onde se fazia ouvir tantas vezes as cantigas, os arrufos e até as intrigas que se geravam nesta faina, talvez a mais “amada” das fainas agrícolas.
A “Folha de Tondela” gostou de ver, de contact
ar com estas pessoas que quiseram também partilhar com o jornal esta sua forma de trabalhar e de vindimar criando laços impossíveis de descrever entre a apanha da uva e depois o saboroso vinho que chega à mesa de todos nós.
A “Folha de Tondela” presta assim uma homenagem aos homens e mulheres do nosso concelho que ano após ano continuam a manter uma tradição que faz parte das nossas raízes e da nossa cultura.
M.J.J.
